1 de fevereiro de 2013

O lado negro da imigração

Inspirado em uma postagem do amigo Daniel Cunha, onde ele desabafa e dá algumas dicas para os aspirantes a imigrantes, deixarei meus "2 cents" sobre o assunto.

Todos passam pelas mesmas fases do processo, sem exceção. Todos nós nos animamos e sonhamos com muitas coisas ao conhecer o processo de imigração. Os olhos brilham só de imaginar uma nova vida em um novo país cheio de oportunidades, nos desesperamos atrás de informações sobre como funciona o processo, perguntamos incansavelmente as mesmas perguntas que todos fazem no início sem nem mesmo pesquisar nos fóruns ou blogs, fazemos cursos e mais cursos de línguas, gastamos rios de dinheiro não somente com estudo de línguas, mas com toda a preparação para o processo, batemos de cara na parede várias vezes pra conseguir reunir toda a documentação necessária, e mesmo assim ainda falta alguma coisa, nos desanimamos, nos animamos, nos desmotivamos, nos desmotivamos mais ainda, nos aborrecemos com as mudanças descontroladas do processo, gastamos mais dinheiro, ficamos desencorajados com a falta de informações e comunicação do BIQ e Consulado, sorrimos e choramos à toa ao receber o CSQ, passamos por uma nova fase de reunir documentos pra o federal, esperamos ainda mais, novos momentos de desmotivação e falta de comunicação, impossibilidade de tocar projetos profissionais e pessoais devido a iminencia da ida, ócio, quase desistência do processo, novo ânimo com mudança de status no E-cas, borboletas no estômago ao receber o pedido de exames médicos e passaportes, sensação surreal ao receber visto de residente, choros de alegria e tristeza em últimos dias no Brasil, venda de carro, casa, móveis, tranqueiras, desafio de reduzir a vida à 2 malas de 32 kg, almoços, jantares e pequenas despedidas com amigos e familiares, chegada em solo canadense e o famoso "Welcome to Canada" ou "Bienvenue au Canada", busca para obtenção de documentos canadenses, desafios para conquista de um lugar bacana para se alugar com a dificuldade de ninguém dar crédito para um novo imigrante, mobilhando a casa com ajuda de amigos e itens usados deixados em depósitos dos prédios e em frente às casas, dificuldade em encontrar um primeiro trabalho, pois todos exigem experiência canadense e enfim, sequência da nova vida.

Perdão pela falta de pontos neste enorme parágrafo, mas foi intencional. É exatamente assim que um imigrante se sente em muitos momentos. Por vezes, uma vida sem pontos. Por outras, com pontos demais.

Talvez seja por estes motivos e acontecimentos que todos que conquistam a imigração comentam a seguinte frase: "Imigração não é pra todo mundo!". E de fato, não é. Em conversas com minha mãe, que já sabe que estou há pelo menos 3 anos envolvido nesta ideia de ir embora do Brasil, ela mesma diz sempre o seguinte: "Se fosse eu, já teria desistido. Tem que ter muita vontade de ir embora...". E de fato, é assim. Quem em sã consciência passa 3-6 anos da vida vivendo parcialmente, com base em um único propósito? Essa é a realidade obscura dos imigrantes.

Não estou aqui para desanimar nem desmotivar ninguém, mas realmente temos um lado obscuro da imigração e nem tudo são flores. Na verdade, as flores demoram bastante pra aparecerem de fato!

Seguindo a boa ideia do amigo Daniel, darei algumas dicas do que aprendi até aqui com esta saga da imigração, e inclusive, algumas delas, são bem parecidas com as dele.

Dicas e Sugestões

  1. O processo de imigração é algo a médio e longo prazo, mas a sua entrada nele deve ser feita à curto ou curtíssimo prazo. Não imagine entrar no processo no fim do ano que vem. Até lá, você provavelmente estará fora das regras que serão vigentes naquele momento. Isso aconteceu comigo várias vezes... Entre o mais rápido possível com o perfil que se tem HOJE!
  2. Vá nas palestras sobre imigração, mas não tome como verdade 70% do que dizem com relação ao caminhar do processo. São poucas as vezes que o que eles falam de fato ocorre na realidade. Não é exagero de pessimismo, é realidade.
  3. Esqueça o que dizem sobre escolas referência no ensino de línguas. Elas são referência para a necessidade de ensino local, e não para o aprendizado REAL da língua para um futuro imigrante. Dê a si mesmo a possibilidade de conhecer outros cursos menos conhecidos, de contratar professores particulares, de fazer aulas de forma intensiva, e não se prenda ao tradicionalismo dessas escolas "renomadas", pois é furada! Hoje em dia, até intercâmbio é mais barato e vantajoso do que estudar em algumas escolas brasileiras de línguas estrangeiras.
  4. Em complemento ao item de cima... Esqueça! Você NÃO ficará fluente, mesmo que estude 40 horas de francês por semana enquanto estiver no Brasil. Isso somente será possível quando você estiver vivendo diretamente na realidade canadense.
  5. Último complemento aos dois itens acima... Não faça um teste de línguas que possa degradar sua pontuação ao invés de te ajudar. Se o TCFQ já garante o que precisa para comprovar sua proficiência em francês. Faça-o! Não opte por fazer o TCF, que é mais completo, e pode puxar sua nota pra baixo e te prejudicar na pontuação.
  6. Siga militarmente o que dizem os documentos e formulários de imigração. Leia cada um dos itens várias vezes. Deixe de lado por um momento a experiência e relatos de outras pessoas no momento da elaboração do dossiê. O que muitas vezes pode ser um facilitador, pode te levar a pecar pelo mesmo erro dos outros. Traduza, autentique, mande o original quando necessário, e siga a risca tudo o que se pede. Lembre-se: comece a deixar o jeitinho brasileiro de resolver as coisas a partir daqui, e faça como o script manda!
  7. Use o tempo de espera do processo em seu favor. Mesmo que tenhamos de deixar em standby vários dos objetivos profissionais e pessoais maiores por conta da emigração, possibilite a si mesmo fazer coisas menores ainda no Brasil. Não deixe de viver por conta do processo. Quanto mais foco der ao tempo de espera e ócio do processo, mais ansioso e desmotivado se tornará.
  8. Talvez um complemento ao item anterior. Se possível, se isole completamente ou o máximo possível do processo de imigração de tempos em tempos, acompanhando somente notícias REALMENTE relevantes. A espera se torna bem mais branda desta forma.
  9. Não deixe que a economia rumo a emigração desgaste sua vida pessoal e social. Reduza, mas não elimine seus gastos de vida no Brasil. Eu errei assim, e sei o quanto isso é ruim e prejudicial à nossa vida.
  10. Não há uma resposta certa quanto à ir para o Canadá antes de receber o visto de residente. Isso é relativo e muito individual. Há os prós e contras de esperar, ou de ir antecipadamente. Cada um deve avaliar suas chances e possibilidades, e fazer aquilo que lhe for mais adequado. Não se baseie na experiência dos outros neste ponto.
  11. Esta dica é praticamente automática, mas vale lembrar. Participe de fóruns e comunidades de imigração. Vá a encontros de imigrantes em sua cidade. Mostre a sua cara, e conheça parceiros com mesmo objetivo que o seu. Estes podem se tornar sua família e grandes ajudantes na sua chegada e vida canadenses.
  12. Eu fiz por muito tempo, mas não adianta... Comparar Brasil com Canadá é desnecessário e sem objetivo. Cada um dos países possuem seu ponto forte e seu ponto fraco. Não ache que o Canadá é o País das Maravilhas de Alice, pois não é. O imigrante tem de ter em mente que o preço a ser pago para ter uma vida no outro país é assumir uma realidade completamente diferente. Fato este que faz muita gente voltar após ter imigrado, por querer viver a vida brasileira no Canadá.
  13. Tem a possibilidade de fazer uma viagem de reconhecimento? Pois faça! Há aqueles que imigram às cegas, e só conhecem o lugar que pretendem passar a vida depois de estar com o visto de residente. Eu não consigo me imaginar fazendo isto, pois há muita coisa em jogo.

Por fim, há muitas outras dicas e sugestões possíveis, mas as principais são estas. Lembre-se sempre de que não há uma receita de bolo para a imigração e a vida de imigrante. Cada um descobrirá e viverá algo diferente nesta jornada. E o que se repete, buscamos pelo menos compartilhar com os demais, e não errar como eles erraram. Aqui deixei alguns dos meus erros, e torço para que não pequem pelos menos pontos também.

Um abraço, e boa imigração! :)